24 de dezembro de 2010

Um Zé Qualquer



Crescera em um casebre lá no fundo de um beco sem saída, de um bairro periférico. Do outro

lado existia um terreno baldio, onde todos os dias Zé Maria jogava futebol com os outros guris.

Com 10 anos de idade, seu grande sonho é ser delegado, apesar de não saber exatamente o que faz um delegado. É que um dia ele viu na TV que os delegados são pessoas importantes. Mal sabia ele que pra ser delegado era preciso ser uma pessoa letrada, como dizia sua avó, Dona Bernadete. Zé Maria não conhecia nem a palavra escola, quem dirá freqüentá-la.

Dizia-se o melhor jogador do beco, apesar de Pirulito, seu melhor amigo, não concordar com ele. Para Pirulito, ele era o melhor jogador de futebol da região. Quando não estavam jogando bola os dois estavam roubando frutas nos pés de árvores dos vizinhos. Toda manhã era isso, arrancavam as frutas e saíam correndo. Virava a esquina e pronto, daí era só se deliciar.

O tempo passou e Zé Maria continuou sem saber o que era escola, apesar de não esquecer seu sonho de ser delegado. Pirulito ainda teve um pouco mais de sorte, aprendeu a desenhar seu nome. O primeiro apenas, mas já era um motivo de alegria pra ele. Pelo menos tava mais perto de realizar o seu sonho, de ser médico.

Inseparáveis, os dois continuaram a crescer juntos. Zé Maria completara 18 anos, e pra comemorar, foram a 1° vez conhecer a praia. Três horas de coletivo. Foi uma alegria sem tamanho quando viram o mar. Caraca! igualzinho como na TV, só que maior – disse Pirulito espantado. Correram os dois a mergulhar. Durante esse percurso de corrida calçadão-mar , começou uma movimentação estranha. Era um arrastão. Os ricos pegavam suas bolsas e corriam dos marginais, os marginais corriam da polícia, Zé Maria e Pirulito corriam sem saber o que estava acontecendo. Tiros. Pirulito cai no chão. Zé Maria, seu amigo fiel volta pra ajudá-lo. De repente um policial segurou seu braço: perdeu vagabundo, perdeu.

Foram juntos à praia. Voltaram separados. Zé Maria conhecera da pior forma possível o que fazia um delegado. Ficara preso por 3 anos. Pirulito não teve a mesma sorte, não conhecera a profissão de um médico. Morreu a caminho do hospital.

Por Cássio Filho em 24/12/2010.

Um comentário:

  1. E assim será por toda a eternidade...
    eis a minha desesperança pra você.

    Conselho: Não se permita à desesperança!

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