23 de dezembro de 2010

O tempo e a solidão

Sentada no batente em frente à casa, esperava por algo consolador. Havia chorado por noites. Olhava sem firmeza para o horizonte. O vento já enxugara as lágrimas que ainda restavam. E por mais que tentasse refugiar-se em pensamentos, a tristeza era sua única companhia. Anos e anos se passaram, e alguns ainda estavam por completar-se. Já não tinha a juventude de antes, mãos enrugadas e tremulas, pele pálida, corpo franzido e ainda as mesmas marcas. Vivia por viver mesmo, era a única razão que restara no momento.

O único amor que restava era pelas flores que ainda cultivava em um cantinho no quintal. Todos os dias as regava, conversava e se despedia. Eram as únicas a compreender a sua solidão.

À noite, pegava o seu casaco de pele, acendia o candelabro e relembrava suas noites em bordeis. Ao som de uma cantiga, bailava como se ainda sentisse o calor do corpo alheio tocar-lhe com força, rodopiando por todo salão e encantando quem ali estava. Num breve momento sentiu seu par conceder o prazer da dança a alguém conhecido. Alguém que acompanhara por todo esse tempo. O calor já não era mais sentido, um frio e um leve parar tomou a atmosfera naquela noite. Já não sentia mais desejo em continuar. Apagou com um triste sopro as velas e tomou-se a chorar.

Já estava acostumada com a sua presença, não emitindo qualquer palavra em retruco. Deitou-se então em seu canto ainda quente de noites passadas, esperando apenas mais um horizonte para olhar. E assim anoitecia, e a solidão a consumia. Nem lágrimas, nem flores enfeitarão a sua solidão.

E nem cruz, nem nome estarão no local onde a enterrarão!
Nem cruz... Nem flores...

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