3 de abril de 2011

Quedas da vida


Quedas da vida.

Costumava sempre correr rua abaixo. Com sorriso largo, inocência de uma criança de 6 anos. Pulmões cheios de ar, ilusões de uma vida sempre cheia de aventuras, felicidade. Ainda lembro minha mãe aflita a gritar da calçada: “Filho, cuidado pra não cair e se machucar...” Não demorava muito e sem cuidado algum, ali me jogava ao chão. Paralisava um pouco, sentia a dor física e em frações de segundos soltava o chora garganta a fora. Levantava-me, ainda com olhos mergulhados em lágrimas e corria para seus braços em busca de colo. Minutos depois, lá estava novamente correndo sem sentir mais dor alguma em busca de outras aventuras. Erguia a cabeça, estufava o peito novamente, aspirava o doce ar e me lançava.
Ah doce infância! Quantas vezes essas cenas se repetiram? Quantas quedas, quantas lágrimas e quantas marcas e cicatrizes que contam histórias engraçadas, alegres e inocentes? Inúmeras!
Hoje, a passos lentos, com certa e necessária malícia, ainda cometo essas quedas. Sou arremessado. A sensação é de uma queda livre onde cada rajada de vento me corta a pele. No momento não derramo uma lágrima e nem aguardo a fração de segundos para que isso aconteça. Levanto-me com os olhos secos, ora caídos, ora desacreditados. Sinto a dor. Agora não mais somente física e sim a dor da alma. Busco consolo. Sei que ela ainda está ali, mas o máximo que poderá fazer é passar a mão sobre minha cabeça e desejar: “Sorte filho, estarei sempre aqui por você! Andas... Tem um mundo ainda a sua frente te esperando. Não tenhas medo e não abaixe a cabeça nunca. Hoje tu és um homem e saberá levantar-se a cada queda”. Então, estufo o peito, aspiro o ar dolorido e me lanço novamente aos poucos.
Ah cruel vida! Onde tudo é tão grande, a noite é tão mais escura e o vento tão mais frio. Quantas vezes essas cenas se repetem? Quantas quedas, quantos olhos secos e quantas cicatrizes e marcas que contam histórias tristes e maldosas? Incontáveis!

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